sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A idade do mundo

James Ussher é o nome da figura sobre quem vamos conversar um pouquinho hoje aqui neste espaço destinado ao preenchimento de certas mal-digitadas linhas, sempre de autoria deste que vos assombra. James Ussher, assim mesmo, com dois esses. Já ouviu falar? Não? Confesso que nem eu, até ontem, quando vasculhava sites e livros e jornais e revistas e enciclopédias e a memória em busca de um tema para a crônica de hoje (”um tema, um tema, meu reino por um tema”, acho que já li coisa parecida em algum lugar, porém, creio que o objeto de desejo do suplicante era algo mais equino).
Mas o James Ussher esse daí, com dois esses no sobrenome, foi um cara que viveu na Irlanda, onde nasceu, em Dublin, no ano de 1581. Depois morreu, em 1656, com a idade longeva de 75 anos, uma raridade naqueles tempos. Ao longo de sua vida, dedicou-se à religião, seguiu carreira na Igreja Irlandesa a ponto de se tornar Arcebispo de Armagh, coisa das mais importantes porque significava responder por toda a Igreja da Irlanda naquela época. E sendo o que era e quem era, o que ele dizia e escrevia virava lei. Especialmente o que escrevia, porque era um pensador dedicado a estudar as Escrituras Sagradas.
E foi estudando as mensagens secretas e subliminares que acreditava estarem escondidas sob o verbo impresso nos textos bíblicos que o James Ussher se botou a calcular a cronologia dos fatos do mundo, especialmente os descritos nos dois primeiros livros da Bíblia: Gênesis e Êxodo. Dessa maneira, publicou um livro que ficou muito famoso em toda a Europa, intitulado “A Cronologia do Mundo”, em que afirmava, por a mais b, que o universo havia sido criado exatamente às nove horas da manhã do dia 23 de outubro de 4004 antes de Cristo. Ou seja, segundo Ussher, o Universo faz hoje seu aniversário de 6019 aninhos.

A tese de Ussher foi levada a sério em grande parte do mundo ocidental durante muito tempo. Hoje em dia, também por a mais b (ou seja, usando-se a mesma técnica, que consiste em acreditar piamente naquilo que optamos por piamente acreditar), a maioria das gentes acredita que o universo é bem mais velho e não se pode (ainda) fixar com exatidão a data de seu nascimento. Eis que assim, demorou muito pouco para que testemunhássemos a queda da tese de Ussher, o que, por si só, poderia render um conto. Por enquanto, contentemo-nos com a crônica.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de outubro de 2015)

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