sábado, 24 de outubro de 2015

Nossa mão fechada

Nós, seres humanos, somos bons ou maus por natureza? Nossa essência em termos de espécie corresponde ao antigo mito do “bom selvagem”, que defendia que os homens nascem bons e o que os desvirtua é justamente o processo civilizatório? Ou, pelo contrário, os fundamentos da civilização refletem com exatidão os desvirtuamentos originais existentes na essência humana? Boas perguntas para um final de semana, hein?
Longe de ser uma questão que ocupa e preocupa somente filósofos, artistas, escritores, psicólogos e teólogos, também os cientistas andam às voltas com o problema, e não é de hoje. Conhecer a essência da espécie humana, a raiz das motivações de seus atos e sua forma de pensar e agir, se configura em instrumento de fundamental e vital valor para compreender as ações e reações humanas e aprimorar o convívio em sociedade. Afinal de contas, não é de hoje que nós, seres humanos, precisamos da imposição (às vezes por medo das consequências da Justiça, outras vezes, por temor da ira divina) de códigos de ética e de conduta para que possamos conviver minimamente em paz e harmonia, sem que prevaleça a ditadura de nossos instintos, de nossas raivas, de nossas invejas, de nossas paixões, de nossas cobiças e assim por diante. Daí as leis, daí os mandamentos. Não fosse assim, talvez nem mais existiríamos enquanto espécie.
Cientistas da Universidade de Utah (EUA) andam desenvolvendo uma pesquisa no sentido de descobrir quais as reais utilidades da mão humana no formato como a possuímos hoje. Além da destreza em agarrar objetos, manipulá-los e transformá-los, a mão humana é a única capaz, entre todos os seres do planeta, de formar um punho fechado e, com ele, desferir socos, muito mais agressivos, poderosos e destrutivos do que os tapas e os soquinhos de mão semiaberta com que os símios atacam e se defendem. Ou seja, nós, seres humanos, batemos melhor, agredimos melhor, ameaçamos melhor do que qualquer outra espécie humanoide ou símia que já tenha existido sobre a face da Terra.

Talvez a primazia do Homo Sapiens (que somos nós) sobre outras espécies de humanoides mais gentis e elevadas espiritualmente (como o Homem de Neanderthal, que coexistiu com os Sapiens e depois foi extinto) tenha se dado devido ao império do uso da força e da violência. Talvez esses sejam, em essência, os pilares de nossa civilização e de nossas almas. Talvez. Tomara que não.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de outubro de 2015) 

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