quinta-feira, 22 de outubro de 2015

De olhos bem abertos

Nesse mundo em que vivemos, habitado e comandado por seres humanos, não podemos correr o risco de sermos ingênuos. A ingenuidade também tem um preço a cobrar e, na maioria das vezes, a conta é bem alta. Não significa defender que sejamos maquiavélicos, mal-intencionados e malvados como os Minions, não. Precisamos é saber nos defender das gentes que são desse jeito e, tão importante quanto isso ou até mais, precisamos saber nos precaver contra eles, contra suas intenções, contra suas atitudes, antever seus passos, detectar suas reais intenções, para não corrermos o risco de sermos conduzidos e manipulados como cordeirinhos a serviço de seus escusos interesses.
Não é fácil. É preciso estar sempre alerta. Afinal, ninguém dá nada de graça. Também não significa adotar a paranoia geral como estilo de vida e passar a detectar a ação de supostas teorias da conspiração em tudo, longe disso. Apenas é conveniente ficar atento para a manipulação dos fatos e aos discursos que, na verdade, camuflam as reais intenções das coisas. Nem sempre é assim, mas, muitas vezes, infelizmente, é, e é aí que mora o perigo. Em recente e muito lúcida entrevista concedida ao jornal Zero Hora, o Comandante do Exército Brasileiro, Eduardo dias da Costa Villas Bôas, fazendo uma análise de atual conjuntura internacional, com seus conflitos localizados, declarou: “qualquer confronto tem fundo econômico, mas se reveste de outros aspectos para ter legitimidade”. Bingo! Na mosca!
O Comandante referia-se especificamente aos conflitos armados registrado ao longo da história humana, mas sua reflexão vale para tudo. Tanto nas guerras, nas quais o fator motivador quase sempre é o econômico (que precisa ser camuflado) quanto em várias outras situações do cotidiano social, as verdadeiras razões que movem certos atos, movimentos, posicionamentos e discursos são camuflados sob o manto de teses palatáveis e defendíveis, fáceis de ganharem adeptos e apoiadores. Seria diferente caso os reais motivos fossem explicitados, portanto, é necessário dourar a pílula para que ela desça redonda.

E a pílula sempre desce redonda na garganta dos incautos e dos ingênuos, que se transformam em massa de manobra sem que se deem por conta disso. Aí é que mora o perigo, pois, como na Justiça, o argumento de não conhecer a lei não absolve a pessoa do crime que cometeu. Olhos foram feitos para serem mantidos abertos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de outubro de 2015)

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