segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Fantasma na máquina

Eu fico maravilhado e acho tudo muito lindo, quando se trata dessa coisa de tecnologia. Agora, por exemplo, o tablet que eu tenho lá em casa (aquele aparelhinho, madame, parecido com um tablete de margarina - daí o nome -, só que três vezes maior, mais fino e que carrega a internet todinha dentro dele, sacou?), pois o meu tablet passou a ser habitado por um espírito eletrônico (“um programa”, me ensinam as novas gerações) que entende o que eu falo e cumpre as tarefas que eu ordeno. Genial!
Moderníssimo como sou, aprendi a organizar uma agenda eletrônica de minhas tarefas e compromissos apertando o botãozinho certo no tablet (e a porcaria do Word insiste em grafar “tablete” toda a vez que eu teclo “tablet” e tenho de voltar para suprimir o “e” que sobra) e simplesmente ordenando, em voz alta, no meio da sala: “agende reunião com Fulano de Tal, às tantas horas”! E pimba: a secretária eletrônica entende o que eu digo e tasca lá na agenda o compromisso, sem que eu tenha de digitar nada. Fantástico, supimpa, admirável mundo novo! Só que não. Nem sempre.
Ontem, por exemplo, entrei em briga feia com a secretária eletrônica, que subitamente se revelou pouco capacitada para as tarefas a que se propunha ao invadir meu tablet. Ela simplesmente não entende minha pronúncia para “dia 26”. No lugar disso, agendou meu compromisso para outros dias, ou para dias diferentes no horário das “vinte horas e seis minutos”. Pô, que dificuldade de comunicação! Resultado: tive de desistir do auxílio dela e digitar com meus dedões mesmo o compromisso na agenda eletrônica de forma correta. Fui obrigado a deixar de lado a ultramoderna tecnologia eletrônica e botar meu cérebro e meu corpo a agir, para conseguir o objetivo, que era simplesmente marcar a reunião.

E isso, amiga leitora, prezado leitor, isso é muito, mas muito bom. Porque isso significa que, ao menos por enquanto, as máquinas precisam se colocar no seu lugar, porque elas falham, sim senhor, e ainda precisam de nós, humanos, para desempenhar suas funções. É um alívio. Porque, até então, a gente estava condicionado a aceitar a teoria vista nos filmes antigos de que os robôs nunca falham... ca falham... ca falham... ca falham...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de outubro de 2015)

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