segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Uma vez criança...

Fiquei muito surpreso quando, certo dia 12 de outubro de mil, novecentos e lá-vai-pedrada, contando eu já uns bons duns vinte-e-tantos anos (percebam que lanço mão aqui a subterfúgios gastos, batidos e constrangedores para escamotear a idade, que coisa mais triste, mas, enfim, atire a primeira pedra quem ainda não engrisalhou), estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria, apareci na casa materna na distante e natal Ijuí para passar o feriadão e caíram-me os butiás do bolso (o que é um lugar-comum anacrônico porque, naquela época, eu ainda não vivia na Serra Gaúcha e não conhecia a expressão) quando minha mãe chegou no café da manhã com um presente de Dia das Crianças. Adoro ganhar presentes, mesmo agora engrisalhado, porém, naquele momento, me senti um pouco constrangido porque, tendo recém saído da adolescência, desejava (como todo adolescente e todo jovem deseja) desvincular-me a todo o custo de qualquer característica que ainda pudesse me atrelar ao universo pueril que eu recém deixava de habitar.
Eu queria ser adulto e receber presente no Dia das Crianças me soou meio estranho. Felizmente, não demorou muito para eu perceber que, para nossos pais, nós seremos eternas crianças a serem por eles amados, cuidados, cultivados, presenteados, corujados, independentemente da idade que tenhamos. Não seria uma maravilha recebermos presente do Dia das Crianças aos 70 anos de idade, de nossos pais de 95? No embalo da chegada do Dia das Crianças, recebi e-mail da leitora Claudete Fontana, com a reflexão que reproduzo a seguir:
“Para mim o passar dos anos nos traz a conexão que a infância e a maturidade perdem. Nós vamos crescendo e nos deixando envolver com tudo e com todos e a nossa essência fica lá, quietinha, hibernando. Mas chega um momento em que não tem mais como dormir e aí nos parece natural gostar de tudo que gostávamos quando crianças. Não é que se volte a ser criança, é que simplesmente chega um ponto da vida em que a conexão é automática, só isso! Mas é claro que, para alguns, isso não existe: se cresce, amadurece, envelhece e pronto. Sempre digo aos meus filhos: cultivem suas crianças interiores, sejam crianças na hora de ser criança e adultos na hora de ser adulto, sempre”.

Assino embaixo, Claudete. Feliz Dia das Crianças!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de outubro de 2015)

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