segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A precaução da ameba

Uma vez que não somos amebas e nem ratos, mas, sim, seres humanos, sabemos que a condição de nossa existência não rima com a pusilanimidade (arrasta o Aurélio para a sala ou googleia a palavra e, depois, seguimos adiante, porque também não estou aqui para facilitar a vida de ninguém, e eita que começo a semana metendo dentro as portas!). Pois então, não somos pusilânimes, conforme acabamos de compreender. E se pusilânimes não somos, é preciso abrir espaço em nossas vidas para a ousadia e a experimentação, porque só não ousa e não experimenta quem é ameba ou rato, e isso que rato, às vezes, vivencia experiências interessantes dentro de labirintos de laboratório.
Mas também tem uma coisa, e é preciso que se diga para evitar o aparecimento da soberba, esse mal que assola a todos os que vão dos oito aos 80, pulando da antiga pusilanimidade para a adoção do nariz empinado, o que não faz bem para a saúde, haja vista a profusão de desníveis e buracos em nossas calçadas. Experimentar e ousar é preciso, sim, mas reza a cartilha do bom senso que tenhamos sempre à mão um plano B para o caso da ousadia não dar certo. Paralelo a isso, é preciso também sabermos lidar maduramente com as frustrações, e é aí que a porca pode torcer o rabo.
Hora do exemplo para elucidar a tese. Vamos a ele. Final de semana este próximo passado, anunciei em casa, em alto e bom som, que o jantar ficaria por minha conta no sábado, e ela (a esposa, naturalmente) que fosse para a sala ler, assistir tevê, navegar na internet, que a coisa era comigo. Tive de driblar os protestos dela, no sentido de evitar minha trabalheira e jantarmos as sobras do almoço, requentadas, mas não houve jeito, bati pé e teimei em experimentar duas novas receitas: jantar e sobremesa. Comecei os trabalhos às quatro da tarde e só terminei às oito, depois de sujar todas as louças da casa. Chamei-a para jantar e tudo estava uma perfeita droga. Comida ruim, seguida de sobremesa sofrível. Perdi tempo, fiz sujeira, gastei ingredientes, comemos mal e tivemos de requentar o almoço, a fim de não passarmos fome.

Moral da história: panela velha é que faz comida boa. A panela velha era o plano B.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de novembro de 2015)

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