sábado, 14 de novembro de 2015

Ao volante da História

Parece que não tem mesmo volta: em termos de trânsito, o que o futuro nos reserva são os veículos que dirigem sozinhos. A tecnologia necessária para a produção de automóveis que dispensam a ação dos motoristas humanos ao volante já existe. Porém, os empecilhos para sua imediata implantação são os de sempre: alto custo e falta de infraestrutura adequada que permita a iteração segura do carro-robô com o ambiente (leia-se as estradas, as ruas, a sinalização, essas coisas).
Mesmo assim, fiquei extasiado dia desses, lendo uma extensa reportagem sobre o assunto, focada nos testes reais que empresas, universidades e montadoras andam realizando nesse sentido ao redor do mundo. Parecia obra de ficção-científica, mas, como sabe-se muito bem desde Leonardo da Vinci e de Jules Verne, o sonho é o primeiro passo para a concretização de maravilhas. Ao que tudo indica, nossos netos e bisnetos vivenciarão experiências bem mais interessantes do que as nossas ao volante dos veículos que os aguardam no futuro próximo. Vai ser possível simplesmente entrar no carro, ordenar ao computador de bordo o destino e, ao longo do trajeto, ocupar os olhos, as mãos, os pés e a mente em atividades diversas como ler um livro (livro, no futuro?), assistir a um filme, pintar as unhas e retocar a maquiagem (sim, eu também penso nelas), preparar uma palestra, trocar as fraldas do bebê, tirar um cochilo. Muitos fazem essas coisas hoje em dia ao volante, infelizmente, mas não deveriam. Ainda não estamos no futuro. Nem nós, nem nossos veículos, nem nossa (dita) consciência cidadã. Mas o amanhã bate à porta, como sempre, e não engata marcha-a-ré.

Tomara que, junto com essa tecnologia, consiga-se também varrer para o passado a sucessão de tristes notícias referentes à carnificina do trânsito, decorrente da direção irresponsável dos motoristas, das más-condições das estradas, das más-condições dos veículos, dos descaminhos e malversações das verbas públicas, essas coisas todas que, pelo jeito, não há futuro capaz de dar fim, infelizmente. Quem viver para ver, corre o rico de testemunhar uma realidade brilhante dessas em plena ação nos países desenvolvidos enquanto que, aqui, insistiremos em nos dedicar ao subdesenvolvimento contumaz, asfaltado pela cultura do jeitinho e do cada um por si, atolados perenemente na contramão da História. Veremos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 14 de novembro de 2015)

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