sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Fé na sorte

Daí a gente fica sabendo que um sujeito em São Paulo, com muita vontade de ficar rico, desembolsou 95 mil reais (isso mesmo, a senhora não leu errado: foram quase 100 mil) em apostas na Mega-Sena, essa que ficou acumulada ao longo de um mês inteirinho (essas coisas estranhinhas da sorte) até chegar aos R$ 205 milhões. Confrontando as leis das probabilidades (sim, porque, no Brasil, quanto mais acumula a Mega-Sena, mais apostas são feitas e, quanto mais apostas são feitas – sempre no final do ano, por sinal –, mais difícil é alguém acertar, subvertendo a lógica), nem o paulista afoito (e rico, pelo visto, já que tinha uma fortuninha para apostar na fortunona) e nem ninguém levou o tentador prêmio, exceto um apostador (um único, umzinho só) de onde? Ora, do Distrito Federal!!!! Ah, essas coisas da sorte... A sorte, no Brasil, realmente é uma coisa que dá pano prá manga... Mas não vamos falar sobre isso.
Não vamos falar sobre isso porque fica parecendo papo de perdedor. Aquela coisa: “O Marcos Kirst não jogou na Mega-Sena, nunca joga na Mega-Sena nem em nenhuma outra loteria e, por isso, fica aí com dor-de-cotovelo, escrevendo essas coisas”. Para que não digam isso de mim, vou ficando por aqui mesmo. Mas é verdade, não jogo mesmo. Motivo? Não vou dizer. Mas dou uma pista. O motivo segue a mesma linha das decepções que fui tendo ao longo da vida, primeiro, em relação ao Coelhinho da Páscoa, quando descobri que quem escondia os ninhos eram meus pais. Depois (mais traumática ainda) veio a decepção em relação ao Papai Noel, um sujeito escondido sob uma máscara de plástico cujas orelhas pareciam demais com as de um tio que, estranhamente, naquele momento se ausentava da celebração.

Daí veio a questão do Bicho-Papão. Ok, nesse caso, foi mais um alívio do que uma decepção, mas a partir daquilo tive de redirecionar para outras fontes a origem de meus temores. Bem mais reais. Daí a decepção com os pilotos brasileiros de Fórmula-1 pós-Ayrton Senna e com os jogadores (???) de futebol convocados para a Seleção Brasileira. E com os partidos políticos. E com a Hello Kitty, que negou ser uma gatinha. Pois é, minha relação com as loterias caminha nessa trilha, especialmente depois que aposentaram a zebrinha do Fantástico. “Iiii, olha eu aí: deu zebra”!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27 de novembro de 2015)

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