quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Há de haver ginga

A sensação dos dias de feriado passados no interior na casa dos sogros, entre a turma de adultos nostálgicos e de crianças curiosas, era para ter sido aquele bambolê que surgiu pelas mãos de um cunhado, preocupado em proporcionar novas experiências aos pequenos da família. Era para ter sido, acabou não sendo e, por isso mesmo, de certa forma, houve, sim, certa sensação, mas às avessas. De que jeito? Bem, como já é de lei, nos parágrafos a seguir, explico-me.
O que aconteceu é que alguns pares de olhinhos pertencentes aos pedacinhos de gente da família brilharam ao serem de repente apresentados àquele aro de plástico que prometia muita diversão assim que devidamente demonstrado em seu uso por algum de nós ali reunidos. “Olha só, bambolê, bambolê!”, exclamamos nós, os já passados em anos, todos recordando com entusiasmo dos seus tempos de adolescência, quando os bambolês apareciam em profusão na hora do recreio e os mais habilidosos proporcionavam verdadeiros shows de rebolado. As crianças davam pulinhos de ansiedade, desejosas de verem o que aqueles novos brinquedos seriam capazes de gerar em termos de diversão, e lá foi o primeiro de nós, disposto a demonstrar o que e como deveriam fazer para que o bambolê funcionasse.
O show do primeiro adulto não durou mais do que uma volta do bambolê ao redor da cintura, até, em dois segundos, cair ao solo. O show do segundo adulto durou menos ainda. O do terceiro, sequer bamboleou, indo o aro rumar direto da cintura aos pés em uma fração de segundo. Eu, que tenho a destreza de uma viga de concreto, sequer ousei tentar e passei a minha vez para o seguinte, que também não se saiu bem. Ninguém conseguiu bambolear e, para que a magia não se perdesse, fomos lá fora jogar os bambolês uns para os outros, até cansarmos daquilo. Mas fiquei encasquetado.

Mais tarde, sozinho, fui analisar o bambolê recém-adquirido, em busca de alguma falha em sua estrutura. Porém, estava tudo em ordem: a circunferência parecia correta, o material empregado possuía firmeza e leveza em doses adequadas, o projeto era aprovável. O erro, percebi, não residia neles, mas, sim, nas cinturas dos usuários. Em algum momento depois das nossas adolescências, havíamos perdido a ginga. E sem ginga, amigo leitor, estimada leitora, não há quem rebole nesse mundo!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de novembro de 2015)

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