quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Há de haver ginga

Diga lá: quem nunca construiu dois edifícios no Leblon ou adquiriu uma casa em Copacabana? Ora, basta ter mais de 30 anos de idade para já tê-lo feito, pelo menos, na infância e adolescência, durante alguma rodada de Banco Imobiliário, uma das maiores vedetes de todos os tempos entre os jogos de tabuleiro, em boa parte do mundo. Eu, que tenho bem mais do que 30 anos, acumulo várias horas jogando dados e manipulando cartas de vários tipos de jogos, entre eles, o famoso Banco Imobiliário, aniversariante desta quinta-feira, 5 de novembro.
Pois é, também os jogos de tabuleiro fazem aniversário, veja só a senhora, tão acostumada a jogar canastra, pife e paciência com baralho de cartas ao invés dos simulacros de computador, não é mesmo, madame? Não sabia? Nem sabia eu, mas fiquei sabendo ao fuçar aqui e acolá nos meus alfarrábios, nos impressos e também nos virtuais, pois que também sou um ser que evolui, a exemplo das ostras e dos platelmintos. E fiquei sabendo disto: que hoje comemora-se os 80 anos da criação do Banco Imobiliário, também conhecido como Monopólio (ou Monopoly, no original em inglês). Oito décadas de existência do joguinho e ainda não consegui comprar nem um quarto-e-sala no Leblon, exceto de brincadeira, mas deixa isso pra lá, não vem ao caso.
Pois a senhora fique sabendo que o jogo foi criado em 1935 por um norte-americano (sempre eles) chamado Charles Darrow (1889-1967). Ele era vendedor de sistemas de aquecimento na Pensilvânia, mas estava desempregado e deu na telha de criar o joguinho e publicá-lo. Aí aconteceu com ele aquilo que volta e meia acontece com os norte-americanos que andam desempregados e colocam uma ideia maluca em prática: a coisa deu certo e ele, no final da história, ficou riquíssimo, sem nunca ter vendido nem comprado nada no Leblon ou em Copacabana.

E o que é que a senhora tem a ver com tudo isso? Bom, pra falar a verdade, nem eu sei, afinal, não é verdade que todo mundo já jogou Banco Imobiliário alguma vez na vida. Menos ainda são os que compraram e venderam imóveis no Leblon e em Copacabana. Já os que, como Charles Darrow, ficaram ricos criando jogos de tabuleiro, são exceções maiores ainda. E os que se preocupam com essas coisas e procuram dar sentido a elas, são em número ainda menor, incluindo a senhora e eu. Pensemos, então, em outra coisa, e passe a vez de jogar.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de novembro de 2015)

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