quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Água sanitária pro espaço

A necessidade é a mãe da invenção, já dizia Ugh, ao pé de um vulcão, espreitando dinossauros ao criar o arco-e-flecha, artefato que lhe permitiria abater à distância suas presas sem o perigo do contato físico de caçar à unha. Ao longo da  evolução, viemos empilhando milhares de exemplos de que o avanço tecnológico das parafernálias que nos cercam, concebidas para tornar nossa existência mais fácil, se dá não tanto devido a lampejos súbitos de gênios mas, sim, por causa de necessidades que se fazem imperiosas.
Foi assim que ocorreu o desenvolvimento, por exemplo, das comidas desidratadas. Se hoje trazemos do mercado para as prateleiras de casa aqueles pacotinhos de macarrão instantâneo e saquinhos com pozinhos que se transformam em sopa bastando verter água quente sobre eles, é porque, décadas atrás, o homem inventou de querer caminhar pela Lua. Sim, foi durante a aventura espacial das décadas de 1960 e 1970 que os cientistas desenvolveram essas maravilhas gastronômicas em pacotinhos repletos de pozinhos, porque, afinal, não constava nos pré-requisitos dos candidatos a astronautas serem bons de avental e colher (e também ninguém pensou em colocar um renomado chef em órbita junto com eles, na época).
Antes disso, surgiu o leite condensado. Foi durante a Segunda Guerra Mundial que alguém teve a brilhante sacada de criar um leite açucaradíssimo que se mantivesse conservado durante meses na frente de batalha, garantindo aos soldados um acesso fácil a uma fonte vital de calorias. Ainda bem que, junto, inventaram o abridor de latas, claro, porque, caso contrário, as latinhas acabariam mesmo era sendo arremessadas na cabeça dos inimigos na hora do pega.

O que fico aqui pensando, depois que a embalagem de água sanitária adquirida no mercado vaza quase toda no porta-malas do carro, pela enésima vez, é o quanto esse produto já teria evoluído caso fosse vital dentro de uma cabine de foguete espacial ou em uma frente de batalha. Não, definitivamente, soldados e astronautas não usam água sanitária, esse produto que permanecerá fadado sempre ao fim da lista de evolução tecnológica...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 30 de outubro de 2014)

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