Sou um cidadão urbano, nascido
na cidade e na cidade sempre vivido. Sendo essa a minha condição, compreendo as
motivações que embasam as iniciativas de vereadores quando apresentam projetos
de lei que batizam ruas, avenidas, praças e demais logradouros públicos com os
nomes de pessoas ou de datas significativas. No caso das gentes, trata-se de
justa homenagem àquelas pessoas que, por razões as mais diversas, revestiram
suas biografias de valor a tal ponto que merecem ser lembradas pelos cidadãos
do presente e do futuro. No caso das datas, para que a memória referente aos
fatos históricos não ceda às tentações do esquecimento.
Vá lá, vá lá, compreendo isso
tudo. As cidades vão envelhecendo, vão acumulando história, deixam de ser
crianças, amadurecem e precisam ir prestando homenagens aos seus próceres, aos
próceres do Estado, do país, do mundo. Entendo, mas também lamento. Acho uma pena
que, assim, o romantismo vá desaparecendo do meio-fio das ruas de nossas
cidades, dos balanços das pracinhas, dos canteiros das avenidas, dos
chafarizes, dos escorregadores das crianças, dos banquinhos dos aposentados.
Gostava mais de vivenciar minha
vida urbana em cidades cujas ruas fossem nominadas como antigamente, a partir
de características próprias e peculiares de seus entornos. Há mais valor
poético, humano e vital ao caminhar por lugares chamados Rua do Arvoredo, da
Praia, das Camélias, da Ladeira. Em Caxias havia a Rua Grande. Em Ijuí ainda
existe a Rua do Comércio. Gostaria de passear algum dia por alguma Rua do
Perfume das Amoreiras, ou por uma Avenida do Passaredo Matinal, ou pela Viela
da Figueira Velha. Uma Travessa do Cachorro Bravo, por exemplo, que mantivesse
o nome mesmo depois de morto o cachorro e de ninguém mais na vizinhança se
lembrar dos donos.
Em Caxias, as crianças de
outrora brincavam no Parque dos Macaquinhos e, apesar de oficialmente não se
chamar mais assim, ao menos insistimos em manter viva no cotidiano da cidade a
denominação. Até eu sinto saudades daqueles macaquinhos do parque, que nunca
conheci. Também, o que esperar de alguém que foi aprendendo a ser gente em uma
Rua dos Viajantes?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de outubro de 2014)
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