Às vezes me questionam, em
entrevistas, sobre desde quando eu escrevo. Minha resposta à pergunta sempre é
cambiante, uma vez que faz décadas que prefiro ser uma “metamorfose ambulante
do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Mas ultimamente, já que a
pergunta induz a pensar em retrospecto, venho respondendo que escrevo desde
antes de ser alfabetizado. Ah, pois!
Sim, explico. Isso é verdade
porque, muito antes de ingressar na escola e começar a aprender que bê com a
faz ba e bê com e faz be, eu já elaborava historinhas em quadrinhos criadas em
minha própria imaginação e as desenhava em cadernões repletos de folhas em
branco, que minha mãe comprava para mim na Livraria Cultural, em Ijuí. Depois,
quando ela chegava em casa do serviço à noitinha, eu ia lá atazanar e pedir para
que inserisse os diálogos que havia criado para os personagens, já que eu ainda
era um analfabeto. Ou seja: tecnicamente, quem exercitava o ato mecânico de
colocar o texto nas páginas era minha mãe, mas quem os criava era eu. Eu, o
autor. Eu, o escritor analfabeto, que escrevo desde antes de aprender a juntar
letrinhas.
Por tabela, volta e meia surge
também a questão sobre desde quando sou leitor, e a resposta é a mesma: desde
antes de aprender a ler. Sim, porque minha mãe (de novo ela) lia livros do
Monteiro Lobato para mim, na cama, antes de eu dormir à noite, e não tinha
jeito de eu pregar o olho porque, antes de dormir, ficava era ligadão querendo
saber o resto da história. Ao invés de adormecer, despertou em mim o leitor.
E Feira do Livro, desde quando
participo? Também, desde sempre. Lá em Ijuí, meus pais me levavam toda a
sexta-feira de tardinha até a Livraria Progresso e me deixavam pegar dois gibis
à minha escolha. Desde os sete anos que eu faço minhas feiras de livros. Podem
imaginar, então, como me sinto hoje, dia da abertura de mais uma edição da
Feira do Livro de Caxias do Sul. Nos próximos 18 dias, a Praça Dante vai estar
repleta de gente faceira por livro igual a mim. Vai lá dar uma olhada, é
divertido, é lúdico, é criativo, é humano, é vida pura! Bem-vinda, 30ª edição!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de outubro de 2014)
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