quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A sombra de Clara

Clara é o nome de uma jornalista de cerca de 25 anos, solteira, desempregada, que anda vivendo uma crise pessoal sem precedentes. Tentando reorganizar os cacos de sua vida dilacerada, cujas pontas se agudizam com a ruptura recente com um namorado, Clara está mergulhando em um turbilhão caótico de eventos que só fazem piorar à medida em que vamos conhecendo mais intimamente os detalhes de sua vida. Caos e farsa são os elementos que parecem predominar ao seu redor.
Fora o fato de também ser jornalista, não possuo nada em comum (ao menos, em uma primeira análise) com Clara. Às vezes, quanto mais a conheço, chego até a pensar que somos de espécies diferentes. E conheço-a muito bem, por sinal. Tão bem a ponto de elencar outro aspecto no qual diferimos eu e ela profundamente: eu sou real, enquanto que ela é fruto de minha imaginação. Eu criei Clara, mas Clara me impressiona, me intriga e me surpreende.
A mais recente grande surpresa que ela me proporcionou ocorreu na noite de segunda-feira quando, no Teatro Renascença, em Porto Alegre, ela foi responsável por me fazer conquistar a maior premiação que já obtive em minha carreira literária. Clara é a protagonista de meu romance “A Sombra de Clara”, contemplado com o Prêmio Açorianos de Criação Literária, categoria integrante do mais renomado prêmio literário gaúcho, destinada a publicar obras ainda inéditas. O livro já está em fase de pré-produção (contrato assinado e tudo) e virá a público na Feira do Livro de Porto Alegre no ano que vem.
O desafio que me impus na produção desse texto foi assumir a voz narrativa e a visão de mundo da personagem, uma vez que é Clara quem conta a sua história ao leitor, do seu jeito, em seu estilo próprio, a partir de suas próprias convicções. Parece que funcionou, porque os jurados me confessaram que, ao ler o livro, juravam que ele tinha sido escrito por uma autora feminina. “Você deve conhecer muito bem as mulheres”, disseram-me os jurados. Não sei, penso eu. Conheço bem Clara. Quer dizer, Clara é um mistério em si mesma, que cabe aos leitores tentarem desvendar.
Calma, novembro de 2015 está logo aí. Desde já, todos convidados para a sessão de autógrafos.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de novembro de 2014)

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