terça-feira, 11 de novembro de 2014

Memória afiada

Se alguém disser que o dia de hoje “anda meio esquecido”, é porque está tentando fazer uma gracinha. Bata nas costas do sujeito, dê uma risadinha dizendo “tá bom, tá bom” e siga adiante, afinal, isso não vai mudar o seu dia nem para melhor, nem para pior. Como existe atualmente dia para tudo, decidiu-se, não se sabe quem, nem onde, muito menos quando, que no 11 de novembro se comemora o Dia da Memória.
Daí a razão da tentativa de gracinha dita ali em cima, que alguém certamente tentará fazer, e não deixará de ter razão, afinal, quem é que se lembrava disso? Ou melhor: quem é que sabia disso? Eu é que não! E se alguma vez na vida soube, confesso que já havia esquecido. E não, não se trata de gracinha. Como lembrar-se de uma data que, no fundo, não tem significado algum? Quer dizer, claro que a memória em si é importante, fundamental para a existência humana e da civilização (o que seria dos historiadores se não fosse o resguardo da memória?), mas o que fazer de especial em um dia destinado a celebrá-la? Pensemos.
Talvez uma forma interessante de marcar a passagem do Dia da Memória seria destinar alguns minutos para praticar seu uso e recordar. Recordar dos tempos idos, da infância perdida, das pessoas que já se foram e nos marcaram, dos amigos com quem perdemos contato, da época da escola, da antiga rua em que vivemos, essas coisas. Podemos recordar atos dos quais nos orgulhamos de termos feito, bem como dos outros atos dos quais nos arrependemos e envergonhamos, afinal, conhecer nosso próprio passado e refletir sobre ele é a melhor forma de moldarmos nossa maturidade pessoal. Mas dá para fazer ainda mais nesse dia.
Além de evocarmos o passado, também prestaremos homenagens à memória se praticarmos a lembrança de afazeres que gostamos de deixar abandonados no esquecimento. Podemos lembrar de telefonar para aquela pessoa querida que passou por dificuldades, ou lembrar de pagar aquele empréstimo feito junto ao amigo, ou de devolver um favor, de fazer um convite, de ser gentil. Falando nisso, lembrei de algo importante: comprar presente de Natal para o afilhado. Que tal um jogo de memória?

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de novembro de 2014)

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