sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O mundo sem Mecenas

Parei para fazer o cálculo. Fazer cálculos, para um homem que vive de enfileirar letrinhas, sempre se configura em uma atividade complexa, que requer o aguçar dos sentidos, por mais prosaica que seja a operação. No caso, tratava-se de uma simples soma, ou subtração, dependendo do ponto de vista (a matemática, apesar de ciência exata, também abre flancos para as idiossincrasias alheias, mas eis que tergiverso).
Primeiro, fiz de cabeça a operação, mas logo decidi repeti-la no papel, colocando números sobre os outros e tirando daqui e passando para lá, como aprendi a fazer ainda de calças curtas defronte ao quadro verde. O resultado foi igual. Bom sinal. Mesmo assim, para não passar recibo de anta frente aos leitores, achei por bem confirmar tudo com a máquina calculadora, essa que guardo dentro da primeira gaveta da escrivaninha e que sempre me salva na hora “h” e em todas as demais letras das horas possíveis e imagináveis (hora “a”, hora “m” et cetera).
Tudo isso para poder começar com convicção esta crônica (que estranhamente se inicia já pelo meio, coisas que nem a matemática mais avançada pode prever) afirmando que hoje, 7 de novembro de 2014, completam-se exatos 2022 anos que o mundo vive sem Mecenas. Mecenas com “m” maiúsculo, pois me refiro ao cidadão romano Caio Cornélio Galo Mecenas, nascido em 70 a.C. e que morreu em 8 a.C. O cálculo foi para agregar esses oito anos aos 2014 da Era Cristã em que vivemos, e quando se trata de a.C/d.C. , as coisas nunca são tão simples assim.

Caio Cornélio Galo Mecenas foi um poderoso conselheiro do imperador romano Otávio César Augusto (63 a.C. – 14 d.C.) e imortalizou seu nome na História por cultivar o hábito de cercar-se de artistas e sustentá-los, a fim de que pudessem se dedicar às suas criações livres de preocupações. “Mecenato” e “mecenas” se transformaram em substantivos em decorrência das ações do personagem histórico. Nos dias de hoje, o mecenato às artes se dá por meio das ações de empresas conscientes da relevância de seu papel social e por meio das leis de incentivo. Longa vida a essas leis e ao exemplo dado por essas empresas.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de novembro de 2014)

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