quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Ouçamos o papa Hilário

Para vocês verem como são as coisas. Até dois dias atrás, eu sequer sabia da existência do papa Hilário. Isso, por pura e absoluta ignorância minha. Hoje, transformei-me em um fã incondicional do papa Hilário, e vou explicar a razão.
Vamos lá. O papa Hilário nasceu na Sardenha (uma ilha mediterrânea autônoma, ligada à Itália) no ano de 415 d.C. Sagrou-se papa em 19 de novembro (hoje é 19 de novembro, sacaram?) de 461d.C. e morreu sete anos depois. Foi o 46º papa da Igreja Católica e, apesar desse curto papado, deixou marcas importantes na história da Igreja e também na da civilização ocidental. A principal de suas realizações foi a ordem que baixou, estabelecendo que, para que a pessoa fosse sagrada sacerdote, era preciso que ela possuísse uma sólida e consistente formação cultural. Além disso, determinou que pontífices e bispos não poderiam mais escolher diretamente seus sucessores, passando essa atribuição a colegiados.
Em resumo, Hilário, que de hilariante não tinha nada, preocupou-se em estabelecer critérios para o ingresso de representantes da Igreja na Igreja e, junto a isso, ocupou-se em eliminar o nepotismo e as indicações puramente pessoais para cargos vitais de comando da instituição. Colocou ordem na casa, mas uma ordem calcada na sobreposição do mérito, do preparo, do estudo, da competência, da qualidade. Ponto para o papa Hilário, por ter tido, lá na Idade Média, percebido que uma instituição só sobrevive se for gerenciada por profissionais.
Eu não seria ingênuo de afirmar que a história posterior da Igreja seguiu à risca a determinação instituída por Hilário, mas o que me chama a atenção é a essência do que ele propôs. Estava correta a visão do papa Hilário. Tão correta que segue sendo atual e moderníssima nos dias de hoje, em que empresas, governos e instituições que teimam em se gerenciar por meio do nepotismo, do compadrio e da valorização da mediocridade, acabam naufragando em meio a um atoleiro de desgraças plenamente evitáveis se agissem diferente.

Nessas horas, quando desaparece o motivo para o riso, é que se deveria evocar os ensinamentos do papa Hilário.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de novembro de 2014)

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