quinta-feira, 20 de novembro de 2014

De cara com o tigre

Sempre que ouço falar em tigres, lembro do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), que era fissurado por esse felino. Borges expressou esse seu fascínio pelo animal em diversas páginas de sua extensa obra, tanto em poemas (“O Ouro dos Tigres” é um dos mais famosos) quanto em prosa. A majestade do porte, a beleza das listras alaranjadas e pretas, a elegância felina mesclada com a ferocidade selvagem, tudo isso compunha o mistério que Borges pinçava da natureza para transformar em literatura, na segurança e tranquilidade dos quartos em que escrevia.
Bem diferente da história do pescador Jamal Mohumad, habitante de Bangladesh, na Ásia, que contabiliza, ao longo de algumas décadas, a incrível marca de ter sobrevivido a três ataques de tigres ferozes, famintos e nada literários. Se Borges era fascinado por tigres, Mohumad é assombrado por eles, na vida real mesmo. Por escapar com vida tantas vezes, o pescador se transformou em lenda viva (vivíssima) na região em que mora, onde é comum ocorrerem cerca de 60 encontros entre tigres e humanos por ano (metade desses contatos termina com os humanos servindo de banquete para os belos felinos de Borges).
Mas Jamal Mohumad, que é um osso duro de roer, virou notícia mundial após protagonizar seu mais recente encontro com um tigre faminto. Ele conta que estava coletando madeira à beira de um rio quando avistou um tigre a alguns metros dele. Assim que o bicho detectou sua presença, levantou-se e veio em sua direção. Experiente nessas coisas de tigres, Mohumad sabia que, se corresse, era batata que o bicho o pegaria e comeria. Resolveu ficar parado e encarou a fera, que se botou a rugir a um metro dele. Mohumad fez então caras muito ferozes e botou-se a rugir também. Rugiu tanto, e tão alto, por tanto tempo, que sua garganta chegou a sangrar. O tigre, estupefato, com aquilo, acabou dando no pé (ou nas patas) quando chegaram os amigos de Mohumad, que haviam escutado aquela balbúrdia.
Resumo da história: Mohumad botou o tigre a correr ao enfrentar a fera olho no olho. Às vezes, a coragem do encurralado faz toda a diferença.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de novembro de 2014)

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