Foi relativamente cedo na
trajetória de minha evolução pessoal que decidi priorizar a lógica e a razão
como ferramentas primordiais a guiarem e conduzirem os meus destinos. O processo
se deu gradualmente e aos poucos se apoderou da forma como eu venho tentando
nortear as decisões que tomo, pesando os prós e os contras de cada situação. Mas
isso sem radicalismos, deixando sempre uma margem estratégica para dar ouvidos,
de quando em vez, às vozes da intuição, da emoção, do sentimento, das percepções
que nascem no coração. Porque nem só de razão vive o homem e nem só de lógica
ele é constituído. Isso se aprende, às vezes, a duras penas.
Aprende-se a duras penas e, de
tempos em tempos, é necessário passar por um choque de consciência a fim de
reavivar essa compreensão, quando ela se vê sufocada por sucessões
ininterruptas de lógica. Nem sempre a lógica tem a resposta. Vamos ao exemplo. Nesses
ininterruptos dias de frio islândico a que estivemos submetidos, expressei em
uma sequência de crônicas geladas o meu desconforto com as baixas temperaturas,
elencando minhas razões. Foram dias que amanheceram com os campos, os gramados
e os telhados das casas cobertos por aquela fina camada de gelo conhecida como
geada. Aplicando-se os passos do raciocínio lógico, podemos, então, depreender
que: se o mundano cronista detesta frio e se a geada é uma das expressões do
frio, então, o mundano cronista detesta geada, certo? Sim, lógico e correto.
Mas há um porém e, se não
houvesse porém, não haveria crônica (isso, sim, é absolutamente lógico). O
porém é o seguinte: o mundano cronista aqui descobriu, lendo a coluna
Caixa-Forte, publicada diariamente neste mesmo jornal, que uma sequência de
geadas faz muito bem (mas muitíssimo bem) para os parreirais da Serra que,
depois, irão produzir excelentes vinhos. Ora, amiga leitora, o mundano cronista
aqui é um dedicado apreciador de vinhos, especialmente quando excelentes.
Aplicando-se, então, a mesma fórmula da lógica, devemos depreender que: se o
mundano cronista gosta de vinhos e se os parreirais dependem de geada para
produzir bons vinhos, então, o mundano cronista precisa também gostar de geada.
E geada, como vimos anteriormente, é uma das expressões do frio, que o mundano
cronista afirma detestar.
E agora, José (Deon), como é que
fica? É nessas horas que a lógica precisa pegar passagem para o beleléu. Vá ao
beleléu, lógica, e abra caminho para o coração. Viva a geada, que trará os bons
frutos da videira. Que haja geada sem frio e que a lógica vá para o beleléu e
de lá não volte tão cedo!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de junho de 2016)
Nenhum comentário:
Postar um comentário