quarta-feira, 15 de junho de 2016

A lógica foi para o beleléu

Foi relativamente cedo na trajetória de minha evolução pessoal que decidi priorizar a lógica e a razão como ferramentas primordiais a guiarem e conduzirem os meus destinos. O processo se deu gradualmente e aos poucos se apoderou da forma como eu venho tentando nortear as decisões que tomo, pesando os prós e os contras de cada situação. Mas isso sem radicalismos, deixando sempre uma margem estratégica para dar ouvidos, de quando em vez, às vozes da intuição, da emoção, do sentimento, das percepções que nascem no coração. Porque nem só de razão vive o homem e nem só de lógica ele é constituído. Isso se aprende, às vezes, a duras penas.
Aprende-se a duras penas e, de tempos em tempos, é necessário passar por um choque de consciência a fim de reavivar essa compreensão, quando ela se vê sufocada por sucessões ininterruptas de lógica. Nem sempre a lógica tem a resposta. Vamos ao exemplo. Nesses ininterruptos dias de frio islândico a que estivemos submetidos, expressei em uma sequência de crônicas geladas o meu desconforto com as baixas temperaturas, elencando minhas razões. Foram dias que amanheceram com os campos, os gramados e os telhados das casas cobertos por aquela fina camada de gelo conhecida como geada. Aplicando-se os passos do raciocínio lógico, podemos, então, depreender que: se o mundano cronista detesta frio e se a geada é uma das expressões do frio, então, o mundano cronista detesta geada, certo? Sim, lógico e correto.
Mas há um porém e, se não houvesse porém, não haveria crônica (isso, sim, é absolutamente lógico). O porém é o seguinte: o mundano cronista aqui descobriu, lendo a coluna Caixa-Forte, publicada diariamente neste mesmo jornal, que uma sequência de geadas faz muito bem (mas muitíssimo bem) para os parreirais da Serra que, depois, irão produzir excelentes vinhos. Ora, amiga leitora, o mundano cronista aqui é um dedicado apreciador de vinhos, especialmente quando excelentes. Aplicando-se, então, a mesma fórmula da lógica, devemos depreender que: se o mundano cronista gosta de vinhos e se os parreirais dependem de geada para produzir bons vinhos, então, o mundano cronista precisa também gostar de geada. E geada, como vimos anteriormente, é uma das expressões do frio, que o mundano cronista afirma detestar.

E agora, José (Deon), como é que fica? É nessas horas que a lógica precisa pegar passagem para o beleléu. Vá ao beleléu, lógica, e abra caminho para o coração. Viva a geada, que trará os bons frutos da videira. Que haja geada sem frio e que a lógica vá para o beleléu e de lá não volte tão cedo!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de junho de 2016)

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