Ontem ou antes de ontem, não
chego a lembrar direito, andei escrevendo aqui sobre o fogão a lenha, esse tão
útil utensílio doméstico (utensílio, móvel ou aparelho?) cuja importância dentro
de nossas casas se eleva à medida em que despenca o nível da temperatura nos
termômetros, dentro e fora dos lares. Ontem, né, madama, que falávamos sobre
isso, e abordávamos o fato surpreendente de tanto eu quanto a senhora
desconhecermos a identidade do inventor do dito aparelho (utensílio?). Ah,
antes de ontem. Correto, então. Pois é.
O que acontece é que o assunto
parece ter esquentado (ao menos um pouco) as rodas de pinhão entre alguns
leitores a ponto de eu ter recebido singelas fotografias dos fogões a lenha que
habitam e aquecem as residências de alguns deles (felizardos e sortudos), sobre
cujas chapas chiam chaleiras de água fervente para o chimarrão, sapecam-se
pinhões e polentas são brustoladas. Agradeço a todos e prometo visitas para
conhecer cada um deles (os fogões a lenha) em sistema de rodízio de noites transbordantes
de frio polar, em escala a ser oportunamente divulgada entre os diretamente
interessados (eu mesmo sou o principal diretamente interessado).
Por outro lado, vários leitores
e leitoras manifestaram o mesmo desejo meu e da madama em desvendar a identidade
de tão importante inventor que legou a essa parcela gelada da humanidade (nós,
os habitantes do Rio Grande do Sul no outono/inverno) tão vital, importante e
quentinho invento: o fogão a lenha. Quem terá sido? Existe essa autoria
específica ou o fogão a lenha, assim como tantos outros inventos cruciais da
História da humanidade, é fruto de um processo coletivo e anônimo de criação
que resultou no formato hoje amplamente aceito e difundido na sociedade? É um
mistério difícil de resolver, a que este cronista mundano, ao longo do tempo em
que perdurar (por imposição do clima) essa série das Crônicas Que Vieram do
Frio, se dispõe a tentar desvendar. Haveremos, madama, de chegar a alguma
conclusão a respeito.
Caso contrário, poderemos nos
dedicar a tentar desvendar os autores de outras invenções importantes para o
avanço do processo civilizatório humano, entre objetos e atos, como a cadeira,
os talheres, o banquinho, o guarda-chuva, o palito-de-dente, a gemada com
vinho, a ceroula, a cortesia no trato interpessoal, o travesseiro, o
saca-rolhas, o ralador de cenouras, a lixa de unha (“coloca aí a base e o
esmalte de unha”, pede a esposa), a base, o esmalte de unha, o abraço, o
sorvete de queijo, a paleta mexicana... Pronto! Gelou de novo...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de junho de 2016)
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