quinta-feira, 9 de junho de 2016

O inventor do fogão a lenha

Ontem ou antes de ontem, não chego a lembrar direito, andei escrevendo aqui sobre o fogão a lenha, esse tão útil utensílio doméstico (utensílio, móvel ou aparelho?) cuja importância dentro de nossas casas se eleva à medida em que despenca o nível da temperatura nos termômetros, dentro e fora dos lares. Ontem, né, madama, que falávamos sobre isso, e abordávamos o fato surpreendente de tanto eu quanto a senhora desconhecermos a identidade do inventor do dito aparelho (utensílio?). Ah, antes de ontem. Correto, então. Pois é.
O que acontece é que o assunto parece ter esquentado (ao menos um pouco) as rodas de pinhão entre alguns leitores a ponto de eu ter recebido singelas fotografias dos fogões a lenha que habitam e aquecem as residências de alguns deles (felizardos e sortudos), sobre cujas chapas chiam chaleiras de água fervente para o chimarrão, sapecam-se pinhões e polentas são brustoladas. Agradeço a todos e prometo visitas para conhecer cada um deles (os fogões a lenha) em sistema de rodízio de noites transbordantes de frio polar, em escala a ser oportunamente divulgada entre os diretamente interessados (eu mesmo sou o principal diretamente interessado).
Por outro lado, vários leitores e leitoras manifestaram o mesmo desejo meu e da madama em desvendar a identidade de tão importante inventor que legou a essa parcela gelada da humanidade (nós, os habitantes do Rio Grande do Sul no outono/inverno) tão vital, importante e quentinho invento: o fogão a lenha. Quem terá sido? Existe essa autoria específica ou o fogão a lenha, assim como tantos outros inventos cruciais da História da humanidade, é fruto de um processo coletivo e anônimo de criação que resultou no formato hoje amplamente aceito e difundido na sociedade? É um mistério difícil de resolver, a que este cronista mundano, ao longo do tempo em que perdurar (por imposição do clima) essa série das Crônicas Que Vieram do Frio, se dispõe a tentar desvendar. Haveremos, madama, de chegar a alguma conclusão a respeito.

Caso contrário, poderemos nos dedicar a tentar desvendar os autores de outras invenções importantes para o avanço do processo civilizatório humano, entre objetos e atos, como a cadeira, os talheres, o banquinho, o guarda-chuva, o palito-de-dente, a gemada com vinho, a ceroula, a cortesia no trato interpessoal, o travesseiro, o saca-rolhas, o ralador de cenouras, a lixa de unha (“coloca aí a base e o esmalte de unha”, pede a esposa), a base, o esmalte de unha, o abraço, o sorvete de queijo, a paleta mexicana... Pronto! Gelou de novo...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de junho de 2016)

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