Recebi muitos cumprimentos por
ter escrito ontem, aqui neste mundano espaço, a respeito do gesto social
conhecido como “aperto de mãos”, por meio do qual demonstramos as intenções
amistosas que temos ao nos aproximarmos de alguém. Os cumprimentos chegaram por
e-mails, por curtidas nas redes sociais, por manifestações “in box” e por abordagens
orais. Ninguém apertou minha mão por causa disso, por sinal, mas tudo bem,
deixemos esse detalhe pra lá, não fiquei frustrado; sou mundano mas não sou volúvel.
Porém (sempre o “porém”,
némesmo, madama minha?), agregado aos cumprimentos recebidos, chegaram também
muitas manifestações em mesmo tom provenientes de madamas leitoras, de senhoras
e senhorinhas leitoras, de moçoilas leitoras, de raparigas leitoras, de senhoritas
leitoras e leitoras e mais leitoras. Todas elas afirmando reconhecerem a
verdade do exposto na crônica (de que o aperto de mãos é um cumprimento
ancestral, universal e praticado pela humanidade desde cavernosas eras), mas
que elas, mulheres, via de regra, não o desdenham, porém, preferem adotar
outras formas de cumprimento social, como o beijinho no rosto, ou os três
beijinhos, o meio-abraço, essas coisas.
Ora, pois, aberto que sou à voz
das ruas e, especialmente, das leitoras, pus-me a pensar. Mas como penso e logo
desisto, resolvi aprofundar as pesquisas sobre o tema e eis que mais descubro
sobre as origens do aperto de mão que, como vimos ontem, surgiu entre os povos
primitivos para demonstrar a intenção amistosa e desarmada dos homens, pois que
homens andavam armados com paus e pedras e tinham de largá-las se quisessem ser
bem recebidos pelos outros, apresentando a mão livre. As mulheres, por sua vez,
desde os primórdios menos belicosas do que os homens, não portavam armas,
dedicando-se a outras atividades familiares, sociais e agregadoras em volta dos
vulcões. Por isso, não precisavam oferecer as mãos abertas em sinal de desarme
na hora do cumprimento, porque eram, em essência, mais confiáveis do que os
homens. Por isso, no geral, cultivam até hoje essa ancestral preferência por
outras formas de cumprimento.
Quase tudo tem explicação lá nos
primórdios das eras, em torno das fogueiras acesas ao redor dos vulcões
primitivos. Ugh sorridente, apertando a mão de Ogh. Agga preferindo trocar
beijinhos nas faces de Igga. Ugh apertando a mão de Ogh, mas escondendo uma
traiçoeira faca na cintura para apunhalá-lo logo depois, pelas costas, e
roubar-lhe a paleta de mastodonte. Essas coisas humanas, que foram nascendo com
a civilização, a senhora sabe. Tudo ali, em torno dos vulcões...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de junho de 2016)
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