Semana passada, perdi de lavada
aqui neste espaço dedicado ao exercício da crônica mundana, quando me botei a
discorrer sobre preferências gastronômicas. Bem feito para mim, que ouso querer
esquecer, na adultice, os conselhos das avós que pautavam e regiam com
segurança a meninice, entre eles, o ponderado “gosto não se discute”. Inventei
de discutir e tive de retirar meu cavalinho da chuva, ensacar a viola, recolher
as fichas, baixar as orelhas, falar fino e sair de fininho. Foi o que fiz.
Perdi. Reconheço. Não acerto sempre.
Só que, dessa vez, perdi feio.
Quase ninguém veio em meu socorro e me vi sozinho em um canto da sala, o nariz
enfiado dentro de um derradeiro potinho de sagu frio, comendo sem fazer barulho
enquanto a totalidade dos leitores e leitoras se uniam à preferência de minha
esposa, aquela mesma que eu revelei adorar consumir sagu quente, coisa até
então abominável aos meus olhos porque, do alto de minha ignorância e pobreza
gustativa, imaginava só ser passível de saborear gelado, uma vez que supunha,
anta saída de rio que sou, que sobremesas só são sobremesas porque se as devora
frias e/ou geladas. Burro eu, porque assim não é. Não, não é, e descobri isso
perdendo de goleada na preferência dos leitores. Senti-me um Brasil frente a
uma Alemanha em campo de futebol: perdido, desnorteado, desprovido de
argumentos e de jogadas que me fizessem sair da sinuca. Senti-me um Fred
atordoado desejando fugir do campo e me esconder no vestiário, assoprando o
relógio para ver se os 90 minutos passavam mais rápido.
E aprendi. Aprendi que sobremesa
se come quente, sim, senhor, Marcos-Eu, mundano cronista de gostos duvidosos.
Sagu frio? Até parece que bebo! Sagu se come quente, diz-me a quase totalidade
dos que leram o estapafúrdio texto que escrevi semana passada, provavelmente
inspirado por alguma indigestão que só pode ter advindo desse meu hábito
extraterrestre de devorar sobremesas (ora essa, pois, pois) frias! Disseram-me
até que existe sorvete frito! E que comem, sim, não só quente o sagu, mas
também bolos fumegantes, arroz doce morno, pudins fervilhantes, sopa quente de
frutas e fico aqui a imaginar aquilo que não me disseram, como Chico balanceado
quente, torta de bolacha quente, picolé assado, salada de frutas torrada, compota
de abóbora grelhada, brigadeiro borbulhante e assim por diante.
Concordo com tudo. Quem sou eu,
afinal, para falar mal do sagu quente? Eu que fique aqui com meu mau gosto a
tentar esfriar meu saguzinho. Por mim, tudo bem. Mas prefiro frio.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de junho de 2016)
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