segunda-feira, 27 de junho de 2016

Tanque cheio de letrinhas

Lancei livro novo no sábado passado, em Caxias do Sul. Diversas pessoas foram até o local, movimentar o evento de lançamento. Recebi o abraço e o carinho de muitos amigos e conhecidos. E também fui alvo do prestígio de desconhecidos, leitores interessados diretamente no teor da obra (livro de resgate histórico dos primórdios da formação de Caxias do Sul). A maioria das pessoas que dedicaram algumas horas de sua manhã de sábado para ir ao encontro do autor e sua nova obra aproveitou para adquirir o livro e nele receber um autógrafo do escritor. Daí que eu fiquei cá pensando.
O livro estava sendo vendido a preço promocional de lançamento a módicos R$ 30,00. Ainda no início daquela manhã, no trajeto de casa até o local de lançamento (a saber, o Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, situado na Avenida Júlio de Castilhos, 318, bairro Lourdes), estacionei o carro em um posto de gasolina, para evitar ficar sem combustível no meio do caminho, já que, desde a véspera, o sensor no painel acendia a luzinha, indicando estar o nível já perigosamente na reserva. Parei ao lado da bomba, meti a mão na carteira, conferi os trocos e identifiquei ali exatamente R$ 30,00, o suficiente para garantir meus deslocamentos imediatos. Não quis abastecer mais do que isso porque os procedimentos com pagamento em cartão me consumiriam minutos que eram preciosos. Mais tarde, voltaria lá e completaria o tanque.
Mandei, então, enfiar dentro do tanque de gasolina de meu carro o equivalente, em combustível, ao valor do livro que em breve eu iria lançar: R$ 30,00. Com esse montante, adquiri cerca de 7,5 litros de combustível, o suficiente para ir até o Arquivo, cumprir minhas tarefas de escritor até depois do meio-dia, rumar a um restaurante e almoçar e retornar para casa no meio da tarde. Oba! Uma vez que meu automóvel consegue oferecer um desempenho de consumo equivalente a 12 quilômetros por litro rodando na cidade, poderia antever uma autonomia de 90 quilômetros a serem percorridos com o livro que meti dentro do tanque. Minha rotina diária me obriga a percorrer esse montante em três dias.

Sendo assim, posso dizer que consumo um livro meu a cada três dias rodando pela cidade de carro. Aí que fiquei pensando sobre esses R$ 30,00 que compram 7,5  litros de gasolina ou um livro dos meus. Com a gasolina, abasteço meu automóvel e transito pela cidade. Com o mesmo valor, adquiro um livro (qualquer livro, em média), abasteço minha alma e viajo o mundo, através dos tempos, sem sair do lugar. É: sou mais feliz comprando livros do que gasolina.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27 de junho de 2016)

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