terça-feira, 26 de abril de 2016

Da tribuna da crônica mundana II

Como já diziam os antigos, é preciso aprender com os exemplos que vêm de cima. Eu, na condição de integrante compulsório daquilo que se conhece como “povo brasileiro”, também sou representado pelos políticos federais em âmbito nacional; estaduais em seara estadual e municipais em esfera municipal. Os políticos agem, e lá estou eu, representado. Quer eu queira, quer não. Os políticos aprovam leis, xingam uns aos outros, derrubam presidentes, cospem, aplaudem criminosos, atropelam as leis que eles mesmos criam, falam asneiras, analisam o sexo dos anjos, cabulam sessões, metem-se em maracutaias e passam a ser investigados, investigam uns aos outros, dão tapinhas nas costas e lá estou eu, como sempre, representadíssimo. Quer eu queira, quer não. Já disse, eu sei, mas é importante sublinhar essa condição compulsória, nobre leitor, excelentíssima leitora.
Pois então, como é vital aprender com os exemplos que vêm de cima (no caso do mapa do Brasil, Brasília está acima do Rio Grande do Sul, situação que favorece estados nortistas e nordestinos, ou não, já que, no caso deles, o exemplo vem é de baixo mesmo, tudo é uma questão de ponto de vista), eu, que sou brasileiro, também quero proceder igual aos deputados federais e oferecer esta minha crônica a todos aqueles que julgo importantes de serem homenageados por mim. Porque se declaração de voto na Câmara dos Deputados pode ser ofertada, crônica também pode. Eis que me coloco aqui, compulsoriamente, em defesa dos direitos dos cronistas mundanos e, se houver algum aí que por mim se sinta representado, una-se a mim em uníssono, porque “cronistas mundanos unidos, jamais deixarão de ser lidos”!

Assim, senhor presidente, eu gostaria de oferecer esta crônica para o meu pai, a minha mãe, aos meus avós, à minha esposa, à minha irmã, aos meus tios e primos, aos sogros, aos cunhados e cunhadas e sobrinhos e afilhados, e aos amigos e amigas, e aos meus bichinhos de estimação que já morreram todos mais ainda os estimo, e a todos os meus personagens, e às Musas inspiradoras que me sopram inspirações mundanas, e a Deus (não, ainda não estou me despedindo, só mais um pouquinho, Sua Vossa Excelência minha), e aos editores e diagramadores deste jornal, e aos prestimosos leitores e às admiráveis leitoras, à família brasileira, aos políticos que nos representam, à mãe do Badanha (tão esquecida), aos juízes de futebol, aos escritores, ao Kid Abelha que acabou... Ah, eu tinha de fazer isso! Sinto-me tão integrado!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de abril de 2016)

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