Como já diziam
os antigos, é preciso aprender com os exemplos que vêm de cima. Eu, na condição
de integrante compulsório daquilo que se conhece como “povo brasileiro”, também
sou representado pelos políticos federais em âmbito nacional; estaduais em seara
estadual e municipais em esfera municipal. Os políticos agem, e lá estou eu, representado.
Quer eu queira, quer não. Os políticos aprovam leis, xingam uns aos outros,
derrubam presidentes, cospem, aplaudem criminosos, atropelam as leis que eles
mesmos criam, falam asneiras, analisam o sexo dos anjos, cabulam sessões,
metem-se em maracutaias e passam a ser investigados, investigam uns aos outros,
dão tapinhas nas costas e lá estou eu, como sempre, representadíssimo. Quer eu
queira, quer não. Já disse, eu sei, mas é importante sublinhar essa condição
compulsória, nobre leitor, excelentíssima leitora.
Pois então, como é vital
aprender com os exemplos que vêm de cima (no caso do mapa do Brasil, Brasília
está acima do Rio Grande do Sul, situação que favorece estados nortistas e
nordestinos, ou não, já que, no caso deles, o exemplo vem é de baixo mesmo,
tudo é uma questão de ponto de vista), eu, que sou brasileiro, também quero
proceder igual aos deputados federais e oferecer esta minha crônica a todos
aqueles que julgo importantes de serem homenageados por mim. Porque se
declaração de voto na Câmara dos Deputados pode ser ofertada, crônica também
pode. Eis que me coloco aqui, compulsoriamente, em defesa dos direitos dos
cronistas mundanos e, se houver algum aí que por mim se sinta representado,
una-se a mim em uníssono, porque “cronistas mundanos unidos, jamais deixarão de
ser lidos”!
Assim, senhor presidente, eu
gostaria de oferecer esta crônica para o meu pai, a minha mãe, aos meus avós, à
minha esposa, à minha irmã, aos meus tios e primos, aos sogros, aos cunhados e
cunhadas e sobrinhos e afilhados, e aos amigos e amigas, e aos meus bichinhos
de estimação que já morreram todos mais ainda os estimo, e a todos os meus
personagens, e às Musas inspiradoras que me sopram inspirações mundanas, e a
Deus (não, ainda não estou me despedindo, só mais um pouquinho, Sua Vossa
Excelência minha), e aos editores e diagramadores deste jornal, e aos
prestimosos leitores e às admiráveis leitoras, à família brasileira, aos
políticos que nos representam, à mãe do Badanha (tão esquecida), aos juízes de
futebol, aos escritores, ao Kid Abelha que acabou... Ah, eu tinha de fazer
isso! Sinto-me tão integrado!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de abril de 2016)
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