segunda-feira, 25 de abril de 2016

Da tribuna da crônica mundana

Ah, mas de hoje não passa! Desde que comecei a assinar este espaço neste periódico, sinto-me, como em nenhum momento antes, determinadamente preparado e inspirado para abordar o assunto. E agora, vai. Prepare-se, estimado leitor; prepare-se, prestimosa leitora. Algo novo está a se descortinar por estas mal digitadas linhas na edição de hoje. Sim, porque, depois de tanto protelar, hoje eu falarei sobre o tema.
Aqueles que esperavam do mundano cronista um posicionamento, terão, então, hoje, esse posicionamento. Saberão se é vermelho ou azul, preto ou branco, gato ou cachorro, cravo ou rosa, queijo ou goiabada. A era do equilíbrio claudicante por cima de muros e grades pontiagudas finou-se. Lugar de pelicano é no mato, já dizia a minha avó, seja lá o que ela quisesse dizer com isso, mas que ela dizia, ah, isso dizia, e sacudindo o longo e fino dedo indicador da mão direita apontado direto para os narizes de nós todos, os netos. E se tem coisa que netos possuem de sobra é nariz, que costumam ficar enfiando onde não são chamados. “Lugar de pelicano é no mato!”. Ah, se é! O nariz agora foi chamado, e está pronto para entrar em cena.
E vou dizer o que penso sem destemor, sem meias-palavras, porque quem me lê e me acompanha sabe que, aqui neste espaço, uso sempre as palavras inteiras, conforme é meu direito e amparado no auxílio atento do corretor do word que se apressa a concluir por conta própria qualquer palavra que eu me enfie a digitar, impossibilitando, mesmo que eu assim o desejasse, o uso de palavras pela metade. Palavras usam-se inteiras, no pleno vigor de suas cargas cognitivas, significado e significante, símbolo e analogia. Signo é signo, e o meu é câncer, obrigado. Nada ficará pela metade aqui. Doa a quem doer, incomode a quem incomodar.  Perderei amizades na rede social, serei bloqueado por uns e aclamado por outros, pagando o preço justo decorrente do posicionamento, que é o fim da unanimidade. Cronistas mundanos jamais são unânimes.
Abusarei dos períodos longos e intercalados, repletos de apostos e vírgulas – até travessões serão conclamados a vir em auxílio da empreitada –, atropelando a forma em favor do conteúdo porque, sim, há momentos em que os fins justificam os meios, especialmente quando temos dois anos de idade e fazemos cara de choro ao pedirmos mais um chocolate. Direi e nada temerei. Mas eis que a coluna chega ao final. Ah, que pena! Queria dizer que sou contra a prolixidade. Sou contra!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 25 de abril de 2016)

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