Que ninguém é uma unanimidade,
isso é unânime, todos sabem e concordam. A Dilma que o diga, por exemplo. O
Aécio também. E eu mais também ainda. Apesar de mundano, tenho consciência de
que minhas crônicas não agradam a gregos e troianos em sua totalidade (principalmente
porque não escrevo em grego). Sei que existem os que leem meus textos e gostam
deles (a quem adoro e endeuso); os que também gostam, mas não leem (aos quais
desculpo); os que detestam e, mesmo assim, leem (a esses não compreendo) e
ainda os que, justamente por não gostarem, não leem (estes, muito honestos e
coerentes).
Assim se dá, em suas nuances
específicas, com todos aqueles que, de alguma ou de outra forma, se expõem ao
público (né, Dilma e Aécio?) e precisam lidar com a não-unanimidade que todos
os seres humanos geram ao seu redor, sejam pessoas públicas ou não. Basta
sermos pessoas para que haja quem goste da gente ou nos deteste, quem aprecie
ou desaprove o que fazemos. Faz parte do ônus e do bônus de viver e de atuar em
sociedade. E é preciso saber administrar com maturidade essas sensações e
reações que provocamos em nosso entorno, muitas vezes sem querer e sem
perceber.
Na maioria das vezes, tiro de
letra essa coisa de lidar com os gostares e os desgostares alheios. Isto posto,
permito-me revelar que existe uma regra que confirma essa exceção... Quer dizer,
uma exceção que confirma essa regra. Trata-se daquele grupo de senhorinhas que
se reúne ao final das tardes de quintas-feiras, nos cafés da cidade, para ler
minhas crônicas (que detestam) e xingar a mim in absentia (a quem detestam ainda mais, por tabela). Já faz anos
que sei da existência desse grupo de senhorinhas leitoras cuja média de idade é
de 80 anos (a média se mantém há décadas porque novas integrantes vão sendo
sazonalmente admitidas) e que me odeiam, porque me enviam missivas (e agora
e-mails, pois que se modernizam também elas) raivosas e ameaçadoras.
O que mais as incomoda é esse
meu alegado estilo mundano repleto de períodos longos demais e generosos em
apostos, nada recomendáveis para leitores de fôlego curto que perdem a
respiração já na metade do caminho, sem conseguirem compreender patavinas
daquilo que eu havia me proposto dizer lá no início, o que nem sempre é uma
verdade, como poderão detectar na frase a seguir, curta e grossa. Tenho dito. O
que me consola é saber que toda a unanimidade é burra. Tanto para um lado,
quanto para o outro. E é preciso ficar alerta quando se começa a viver uma era
de unanimidades. Palmas às senhorinhas do chá!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de abril de 2016)
Nenhum comentário:
Postar um comentário