terça-feira, 5 de abril de 2016

Verdades na hora do chá

Que ninguém é uma unanimidade, isso é unânime, todos sabem e concordam. A Dilma que o diga, por exemplo. O Aécio também. E eu mais também ainda. Apesar de mundano, tenho consciência de que minhas crônicas não agradam a gregos e troianos em sua totalidade (principalmente porque não escrevo em grego). Sei que existem os que leem meus textos e gostam deles (a quem adoro e endeuso); os que também gostam, mas não leem (aos quais desculpo); os que detestam e, mesmo assim, leem (a esses não compreendo) e ainda os que, justamente por não gostarem, não leem (estes, muito honestos e coerentes).
Assim se dá, em suas nuances específicas, com todos aqueles que, de alguma ou de outra forma, se expõem ao público (né, Dilma e Aécio?) e precisam lidar com a não-unanimidade que todos os seres humanos geram ao seu redor, sejam pessoas públicas ou não. Basta sermos pessoas para que haja quem goste da gente ou nos deteste, quem aprecie ou desaprove o que fazemos. Faz parte do ônus e do bônus de viver e de atuar em sociedade. E é preciso saber administrar com maturidade essas sensações e reações que provocamos em nosso entorno, muitas vezes sem querer e sem perceber.
Na maioria das vezes, tiro de letra essa coisa de lidar com os gostares e os desgostares alheios. Isto posto, permito-me revelar que existe uma regra que confirma essa exceção... Quer dizer, uma exceção que confirma essa regra. Trata-se daquele grupo de senhorinhas que se reúne ao final das tardes de quintas-feiras, nos cafés da cidade, para ler minhas crônicas (que detestam) e xingar a mim in absentia (a quem detestam ainda mais, por tabela). Já faz anos que sei da existência desse grupo de senhorinhas leitoras cuja média de idade é de 80 anos (a média se mantém há décadas porque novas integrantes vão sendo sazonalmente admitidas) e que me odeiam, porque me enviam missivas (e agora e-mails, pois que se modernizam também elas) raivosas e ameaçadoras.

O que mais as incomoda é esse meu alegado estilo mundano repleto de períodos longos demais e generosos em apostos, nada recomendáveis para leitores de fôlego curto que perdem a respiração já na metade do caminho, sem conseguirem compreender patavinas daquilo que eu havia me proposto dizer lá no início, o que nem sempre é uma verdade, como poderão detectar na frase a seguir, curta e grossa. Tenho dito. O que me consola é saber que toda a unanimidade é burra. Tanto para um lado, quanto para o outro. E é preciso ficar alerta quando se começa a viver uma era de unanimidades. Palmas às senhorinhas do chá!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de abril de 2016)

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