Eu gosto de pizza. Escrevo
frases de efeito impactante como esta, no início de algumas crônicas, na
esperança de que aqueles leitores mais apressados, que não tencionam ir até o
fim do texto porque têm mais o que fazer, creiam que eu seja um cara normal.
Afinal, moro em Caxias do Sul e, aqui por essas plagas, quem não gosta de
pizza, bom sujeito não é, conforme diz aquele samba. Como, senhora? Nenhuma
letra de samba conhecida diz isso? Ah, mas então é alguma musiquinha em
dialeto. Juro que já escutei. Mas deixa pra lá. Adiante.
Daí, há aqueles leitores que,
por alguma ou outra razão que prefiro até nem conhecer, decidem ler até o
final, e é esses que acabam descobrindo a verdade dos fatos. Como eu dizia, eu
gosto de pizza. Mas... É nas reticências que mora a incerteza, como já dizia...
Hein? De novo, senhora? O que foi dessa vez? Ninguém nunca disse isso? Ah, por
favor... Havia, sim, em Uvanova, um noninho que dizia. Ponto. Conhece Uvanova?
Não? Ah, pois então! Adiante com essa coisa.
Como estou a tentar dizer, eu
sou caxiense (por adoção e opção) e gosto de pizza (por indução e, algumas
vezes, por falta de opção). Mas como nem sempre tenho tempo ou vontade
(“vontade”, em dialeto, se diz “fiorini”, se não me engano) para frequentar
pizzarias ou para produzir uma pizza em casa, aí, decido passar no supermercado
e adquirir uma dessas caixas com pizza já pronta dentro, basta colocar no forno
(sem a caixa) por alguns minutos e ir arrumando a mesa. Até aí, tudo bem.
Problema é que eu gosto de pizza à portuguesa, e aí é que a vaca torce o rabo.
Opa. A porca. Obrigado, madame. A senhora, sempre atenta, hein? Até o fim. A
porca é quem torce. Adiante.
A pizza à portuguesa, como se
sabe, é composta por tirinhas de cebola, pimentão e presunto que deveriam
permanecer equilibradamente dispostas sobre a pizza, cobrindo toda a extensão da
circunferência, da mesma forma como o fazem o queijo, o tomate e as azeitonas. Só
que, devido ao transporte do produto da gôndola do supermercado até a mesa de casa,
os três ingredientes supracitados sacolejam e acabam se agrupando em dois ou
três bandos compactos em certas áreas da superfície da pizza, deixando as
outras regiões despovoadas de cebola, pimentão e presunto. Isso é muito chato. Mas
eu desenvolvi uma técnica para burlar essa armadilha e apreciar o potencial que
a pizza oferece. Só que não vou revelar. As pequenas artimanhas a que lançamos
mão para proporcionar a nós mesmos um cotidiano mais feliz devem ser guardadas
a sete chaves. Afinal, há quem nos julgue normais...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de abril de 2016)
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