O tempo passa, o tempo voa. E
com ele voam também algumas de nossas maneiras de vermos o mundo. Ao lado do
passar acelerado do tempo, voam emparelhados alguns conceitos que, dependendo
do caso, rumam adiante, focando a evolução e, outros, dão marcha a ré na mesma
velocidade, caducando e sendo ultrapassados pelas novas formas de encarar a
vida, a sociedade, as relações humanas. Nada é estático, isso aprendemos a perceber
desde muito cedo. O que impressiona, às vezes, é a maneira como alguns
conceitos se transformam radicalmente em poucos anos, após passarem séculos
praticamente estacionados. A seguir, o exemplo que ilustra a tese, para não
deixar o leitor a caçar borboletas.
Tirei algumas horas do final de
semana para degustar a digitalização que mandei fazer de algumas antigas fitas
VHS que estavam ocupando espaço e acumulando pó na prateleira. Como meu
aparelho de videocassete abandonou meu lar há tempo, fazia anos que eu não
assistia ao que estava ali gravado (um dos atrativos dos videocassetes é que
era possível gravar os programas de televisão nas fitas) e larguei-me à sessão
“mergulho no passado”.
Uma das fitas que mais me chamou
atenção foi aquela em que gravei todo o histórico primeiro show que os Rolling
Stones fizeram no Brasil, trazendo ao Rio de Janeiro a turnê “Voodoo Lounge”,
em janeiro de 1995 (21 anos atrás, portanto). Ao final da eletrizante
apresentação, transmitida ao vivo a todo o país pela Rede Globo, o repórter
Maurício Kubrusly, visivelmente emocionado (como de resto, todos os milhões que
acompanharam a performance dos afamados roqueiros britânicos), pontuou suas
considerações finais sublinhando o impressionante show de vitalidade no palco
demonstrado por aqueles “senhores de 51 anos de idade”. Incrível como o espanto
do repórter (irmanado ao espanto unânime da plateia nacional) soa hoje
totalmente desprovido de sentido.
Sim, porque, nos dias de hoje,
não há mais nada de espantoso em assistir à vitalidade pulsante nas pessoas que
rondam os 50 anos de idade (e os 60, e os 70 e 80). O conceito de juventude,
maturidade e velhice evoluiu aos saltos em apenas duas décadas, a ponto de os
mesmos Rolling Stones retornarem agora ao Brasil e seguirem pulando no palco,
aos mais de 70 anos de idade, e isso não ser mais motivo de espanto. Viver é
espantar-se continuamente. E no que depender de minha torcida, que Mick Jagger
siga rebolando no palco por mais alguns séculos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de abril de 2016)
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