segunda-feira, 11 de abril de 2016

Do mofo ao som da vida

O tempo passa, o tempo voa. E com ele voam também algumas de nossas maneiras de vermos o mundo. Ao lado do passar acelerado do tempo, voam emparelhados alguns conceitos que, dependendo do caso, rumam adiante, focando a evolução e, outros, dão marcha a ré na mesma velocidade, caducando e sendo ultrapassados pelas novas formas de encarar a vida, a sociedade, as relações humanas. Nada é estático, isso aprendemos a perceber desde muito cedo. O que impressiona, às vezes, é a maneira como alguns conceitos se transformam radicalmente em poucos anos, após passarem séculos praticamente estacionados. A seguir, o exemplo que ilustra a tese, para não deixar o leitor a caçar borboletas.
Tirei algumas horas do final de semana para degustar a digitalização que mandei fazer de algumas antigas fitas VHS que estavam ocupando espaço e acumulando pó na prateleira. Como meu aparelho de videocassete abandonou meu lar há tempo, fazia anos que eu não assistia ao que estava ali gravado (um dos atrativos dos videocassetes é que era possível gravar os programas de televisão nas fitas) e larguei-me à sessão “mergulho no passado”.
Uma das fitas que mais me chamou atenção foi aquela em que gravei todo o histórico primeiro show que os Rolling Stones fizeram no Brasil, trazendo ao Rio de Janeiro a turnê “Voodoo Lounge”, em janeiro de 1995 (21 anos atrás, portanto). Ao final da eletrizante apresentação, transmitida ao vivo a todo o país pela Rede Globo, o repórter Maurício Kubrusly, visivelmente emocionado (como de resto, todos os milhões que acompanharam a performance dos afamados roqueiros britânicos), pontuou suas considerações finais sublinhando o impressionante show de vitalidade no palco demonstrado por aqueles “senhores de 51 anos de idade”. Incrível como o espanto do repórter (irmanado ao espanto unânime da plateia nacional) soa hoje totalmente desprovido de sentido.

Sim, porque, nos dias de hoje, não há mais nada de espantoso em assistir à vitalidade pulsante nas pessoas que rondam os 50 anos de idade (e os 60, e os 70 e 80). O conceito de juventude, maturidade e velhice evoluiu aos saltos em apenas duas décadas, a ponto de os mesmos Rolling Stones retornarem agora ao Brasil e seguirem pulando no palco, aos mais de 70 anos de idade, e isso não ser mais motivo de espanto. Viver é espantar-se continuamente. E no que depender de minha torcida, que Mick Jagger siga rebolando no palco por mais alguns séculos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de abril de 2016) 

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